Porque para conseguir interromper este uso, o paciente precisa tomar uma firme DECISÃO. A pessoa que está dependente do descongestionante precisa decidir não utilizar mais este remédio e iniciar um tratamento paralelo que reduza a inflamação existente dentro do nariz e desta forma voltar a respirar melhor.
Parece muito simples, não é? Infelizmente não é tão simples para alguns pacientes.

Isso ocorre porque os tratamentos de “desmame” não apresentam um efeito imediato como ocorre com os descongestionantes nasais (medicamentos que contém substâncias vasoconstrictoras como a nafazolina, oximetazolina, xilometazolina). Desta forma, o paciente pode se sentir frustrado, pois está habituado a ter respostas rápidas com o tratamento, a logo respirar pelo nariz, poucos minutos após pingar o medicamento.

Por estas questões, antes do paciente interromper o uso do descongestionante, costumo explicar exatamente a ele porque esta dependência se instalou – um quadro conhecido como RINITE MEDICAMENTOSA. Explico também que poderá apresentar alguma dificuldade nos primeiros 2 ou 3 dias sem as gotinhas nasais, e que é necessário comprometimento psicológico por parte dele para que este vício seja quebrado.

Então, prescrevo o tratamento clínico de desmame e agendo um retorno para os próximos 7 dias, quando de forma muito interessante o paciente retorna e já me relata que na segunda noite com este tratamento substituto, já não acordou no meio da noite com a necessidade de “pingar” a gotinha no nariz. O fato de ter conseguido dormido melhor à noite já é um reforço positivo e incentivo para que se mantenha firme no propósito de não pingar mais os descongestionantes nos próximos dias. Parar é o primeiro passo.

Paralelo a isso, é importante que o médico otorrinolaringologista investigue motivos adicionais que possam estar contribuindo para a dificuldade na respiração do paciente, como por exemplo: desvio de septo, pólipos nasais, sinusite crônica, hipertrofia de cornetos. Todas estas condições podem inclusive necessitar ser tratadas com intervenção cirúrgica.

Existem mais dois aspectos envolvendo o uso dos descongestionantes nasais que gostaria de abordar aqui: a questão psicológica e a questão do sono noturno.

Um estudo clínico desenvolvido na Itália e publicado ano passado, em 2020 na Revista da Sociedade Europeia de Rinologia, concluiu que pacientes que já apresentavam alguma dificuldade para pegar no sono, despertares noturnos ou sono agitado apresentavam maior propensão ao início do uso dos descongestionantes, maior tendência a esta dependência, bem como maior dificuldade para o deixar este vício.

Da mesma forma, pacientes com alguma condição psiquiátrica de base tais como: depressão, distimia ou ansiedade também eram mais predispostos a iniciar o uso dos descongestionantes e apresentavam mais dificuldade para abandoná-los. Pacientes tabagistas apresentam maior propensão a iniciar o uso dos descongestionantes, mas isso não se traduziu em maior dificuldade para abandonar o vício do remédio.

Eu entendo que ambas as situações – dificuldade para dormir e as condições emocionais podem se retroalimentar e reduzir a disciplina necessária para que o paciente consiga enfrentar os primeiros dias sem o descongestionante e conseguir realizar o tratamento de desmame. Pacientes com rinite medicamentosa que apresentem então estas condições:
alterações e sono e algum quadro emocional e/ou psiquiátrico necessitam de um olhar mais atento e especial por parte do médico que está conduzindo o desmame com um acompanhamento clínico mais frequente deste paciente. Este acompanhamento diferenciado pelo médico ajuda a garantir que o tratamento seja mais bem sucedido.

Vícios e maus hábitos podem ser difíceis de quebrar, quaisquer que sejam, alimentares, posturais, e neste caso medicamentoso. A notícia boa é que com comprometimento e um tratamento substituto que reduza a inflamação dentro do nariz, é muito possível interromper a rinite medicamentosa, e é o que foi apresentado como resultado final nesta publicação científica europeia e no que acredito e observo em meu dia a dia no consultório.

Portanto, se você se identificou, e usa indevidamente os descongestionantes e não sabe o que fazer para parar, não se desanime. Que tal procurar o seu otorrino de confiança, entender melhor o seu caso e se livrar de uma vez destas gotinhas?