O inverno está chegando e com os dias mais frios os problemas respiratórios se intensificam. A obstrução nasal é muito comum nos meses mais frios,  tendo causas variadas, dentre elas rinite alérgica, rinite infecciosa, polipose nasal, desvio de septo, resfriado comum, gripe ou rinossinusites.

Neste momento muitas pessoas recorrem aos descongestionantes nasais em gotas para aliviar os sintomas. Como exemplos destas substâncias podemos citar:  Nafazolina, Fenoxazolina e Oximetazolina, Xilometazolina e Fenilefrina tópica.

Estes medicamentos podem até parecer inofensivos à primeira vista, mas não são. Como são vendidos sem receita médica,  por desconhecerem os riscos do seu uso prolongado, muitas pessoas utilizam estas substâncias de forma inadequada.

 

Como atua o descongestionante nasal?

De uso tópico (gotas nasais), os descongestionantes diminuem o volume dos cornetos nasais. Os cornetos (conchas nasais) são órgãos esponjosos com grande quantidade de vasos sanguíneos. Num processo de inflamação nasal, estes vasos sanguíneos se dilatam, aumentando o volume dos cornetos e desta forma causando obstrução nasal.

O papel do medicamento é justamente contrair estes vasos sanguíneos. Os efeitos levam poucos minutos para iniciar, podendo permanecer por algumas horas.

Como se instala este quadro de dependência dos descongestionantes?  Ao se encontrar em uma situação de obstrução nasal (durante um resfriado ou crise de rinite por exemplo), alguns pacientes passam a utilizar os descongestionantes nasais. Como o tempo de início de ação destas substâncias é muito rápido,  e o efeito produz um grande conforto respiratório, o paciente fica propenso a utilizar o produto novamente. Com poucos dias de uso, geralmente após 5 dias, já pode instalar-se um ciclo de dependência, no qual ocorre uma vasodilatação de rebote nos cornetos nasais, que vão por sua vez se tornando cada vez mais edemaciados (inchados).

O paciente passa a necessitar do uso do produto em intervalos de tempo cada vez menores e em doses cada vez maiores  para conseguir o mesmo nível de conforto respiratório, instalando-se um ciclo vicioso.

Riscos do uso contínuo de descongestionantes nasais

Não são pequenos os riscos do uso contínuo deste medicamento. Além das complicações locais (alterações no próprio nariz), tais como ressecamento nasal, formação de crostas, rinite medicamentosa e, em alguns casos, perfuração de septo nasal, podem acontecer efeitos sistêmicos (especialmente no sistema cardiovascular), tais como taquicardia e elevação da pressão arterial.

Além disso, a qualidade do sono pode ser prejudicada, já que alguns pacientes despertam  durante à noite com necessidade de fazer uso do medicamento no nariz e conseguir algum conforto para respirar, resultando em fragmentação do sono e consequente fadiga diurna.

Riscos do uso de descongestionante nasal na gravidez

Os descongestionantes nasais não devem ser utilizados em gestantes. Por se tratar de medicamentos vasoconstritores, podem afetar os vasos sanguíneos placentários que levam nutrição ao feto, bem como afetar os vasos sanguíneos do próprio feto, podendo gerar complicações.

Existe tratamento conseguir interromper o uso do descongestionante nasal?

Dependendo do tempo de uso do descongestionante nasal, pode ser difícil para a pessoa simplesmente parar de utilizá-lo sem nenhum outro tratamento concomitante auxiliando na melhora da respiração nasal.

Nestes casos, quando o paciente me procura, explico que será necessário comprometimento pessoal para conseguir interromper o uso deste produto, e que poderá ser difícil  não utilizá-lo nos primeiros dois ou três dias em virtude do efeito rebote.

O tratamento envolve a suspensão do uso do descongestionante tópico, e costuma-se prescrever medicamentos apropriados para controlar a inflamação nasal que foi gerada pelo uso prolongado destes medicamentos. Os medicamentos de escolha são corticóides intranasais de baixa absorção sistêmica, em em algumas situações será necessária a associação de medicamentos por via oral.

Em casos mais severos e sem resposta ao tratamento clínico, poderá ser indicada intervenção cirúrgica para redução do volume dos cornetos nasais inferiores (turbinoplastia/ turbinectomia por vídeo).

Em casos de obstrução nasal, procure seu médico otorrinolaringologista e evite a automedicação.

 

 

Fontes consultadas para desenvolvimento do artigo:

  1. IV Brazilian Consensus on Rhinits. Brazilian Journal of Othorhinolaryngoly. 2018;84(1):3-14;
  2. Rebound Congestion and Rhinitis Medicamentosa: Nasal Decongestants in Clinical Pratice. European Annals of Otorhinolaryngology 2013;130:137-44.
  3. Rhinitis Medicamentosa – (NCBI Bookshelf) National Libray of Medicine. McLaren Oakland Hospital. Feb 2019.