Investigar e tratar a doença de forma apropriada pode definir mudança na qualidade de vida do paciente com sinusite crônica. 

Há 8 meses, depois de uma ‘gripe mal curada’ Lúcia, 39 anos, vinha apresentando um quadro de dor de cabeça. Não era uma dor muito forte, mais como uma pressão, que se espalhava para a face. Eram os primeiros sinais da sinusite crônica.

O nariz, que nunca havia incomodado, agora estava cada vez mais congestionado, além da sensação de secreção ‘presa’ dentro da face, que eventualmente conseguia expelir pela manhã.

Quando estava deitada à noite, Lúcia sentia a secreção nasal escorrer pela garganta, gerando pigarro e tosse, o que a despertava algumas vezes ao longo da noite. No dia seguinte, sentia-se cansada e improdutiva, pois a noite de sono não havia sido reparadora.

O quadro de fadiga, somado aos sintomas nasais cada vez intensos, já estava impactando a sua performance no trabalho e o seu humor no dia a dia. Para piorar tudo, Lúcia passou a apresentar dificuldade em perceber os cheiros e até mesmo o gosto de alguns alimentos.

Resolveu então, procurar auxílio médico, realizou alguns exames, e por fim, recebeu o diagnóstico de sinusite crônica.

Personagem exemplifica o quadro de sinusite crônica:

“Lúcia é uma personagem fictícia, mas toda esta história foi trazida para exemplificar como seria um quadro clínico de rinossinusite crônica”, diz a médica otorrinolaringologista, Dra. Fernanda Fiorese Philippi.

“Deparo-me quase todos os dias com esses pacientes em meu consultório, com queixas que geram impacto em várias áreas da vida”, diz a especialista.

Com vasta experiência no manejo de doenças nasais, a médica procura explicar o que é esta condição:
“Por definição, a rinossinusite crônica é um processo de inflamação do nariz e dos seios da face que apresenta duração de mais de 12 semanas”, explica.

Os sintomas da sinusite crônica, conforme descritos na história fictícia acima são:

  • Sensação de obstrução nasal (nariz entupido)
  • Presença de secreção nasal
  • Alterações no olfato
  • Pressão ou dor na face
  • Outros sintomas: tosse, pigarro, fadiga e modificações nos padrões de sono.
    “A rinossinusite crônica é uma doença complexa, que vem sendo cada vez mais estudada e não deve ser considerada uma doença única, podendo por exemplo, coexistir em pacientes com asma”, diz Dra. Fernanda.

“Neste grupo de pacientes com rinossinusite crônica, pólipos nasais e asma é de vital importância o trabalho conjunto entre o otorrinolaringologista e o pneumologista” orienta a médica.

Rinossinusite crônica: o que é e qual o tratamento?

‘Vias Aéreas Unidas’
O conceito de ‘Vias Aéreas Unidas’ norteia há mais de 15 anos o tratamento combinado das vias aéreas superiores (nariz, faringe, laringe) e inferiores (brônquios e pulmões).

O objetivo é uma adequada otimizacão dos sintomas, tanto da rinossinusite quanto da asma. “A rinossinusite crônica tem de ser encarada dentro de um contexto mais amplo e sistêmico”, alerta.

“Para o paciente que chega com estes sintomas em meu consultório, já realizo um exame das cavidades nasais através de vídeo endoscopia nasal.

Em alguns casos, encaminho para avaliação complementar com Tomografia de Nariz e Seios da Face, para avaliação detalhada da anatomia do nariz e seios da face, e para verificar a extensão da doença”, conta a Dra. Fernanda Philippi.

Existe cirurgia para sinusite crônica?

“Sim. Nos casos em que o tratamento clínico não está sendo eficaz, ou na presença de polipose nasal extensa, a cirurgia para sinusite, chamada de sinusectomia endoscópica, é uma etapa do tratamento”, explica a médica.

Este procedimento é realizado em ambiente hospitalar, e o acesso aos seios da face é obtido através das fossas nasais do paciente, sem cortes externos, através de videoendoscopia.
A anatomia nasal é toda modificada, ampliando-se os orifícios de drenagem dos seios da face e otimizando a comunicação com as fossas nasais.

Sinusectomia

E para que tudo isso?

“Com a cirurgia, conseguimos drenar os seios da face que possam estar com secreção, edema, pólipos, ventilar e ampliar a comunicação destes seios com as fossas nasais, permitindo um melhor acesso ao soro fisiológico e a medicamentos que o paciente vier a utilizar dentro do nariz”, detalha a especialista.

O objetivo da cirurgia é evitar que o paciente utilize tantos medicamentos por via oral (sistêmicos) e consiga manter o controle da doença de forma tópica (local).

SinusectomiaPolipectomia

Como ficam os sintomas pulmonares?

Em alguns pacientes com asma/bronquite é possível observar um melhor controle da doença pulmonar após a cirurgia de sinusectomia (conceito das vias aéreas unidas), por haver uma redução da carga inflamatória no nariz e seios da face.

Mesmo com alívio dos sintomas, estes pacientes necessitam manter acompanhamento de maneira sistemática pelos médicos otorrinolaringologista e pneumologista, para observar recidivas ou crises.

“Finalizando: Cada paciente deve ser minunciosamente avaliado, para que a equipe médica possa instituir o adequado plano de cuidados para cada caso”, orienta Dra. Fernanda.

(Material embasado no: Consenso Europeu Rinossinusites – EPOS 2020. RHINOLOGY. EUROPEAN RHINOLOGIC SOCIETY).

Dra. FERNANDA FIORESE PHILIPPI

Médica Otorrinolaringologista

CRM/SC 13496 RQE 6769

Matéria publicada originalmente no portal NDMais.com.br