Os antibióticos constituem-se em uma das maiores descobertas na Medicina e diminuíram significativamente as taxas de mortalidade e morbidade por doenças infecciosas nos últimos 75 anos. No entanto,  uma grande quantidade de antibióticos vem sendo empregados de maneira inadequada, sobretudo  para o tratamento de infecções do trato respiratório superior. A Organização Mundial de Saúde (OMS) alertou, em 2017, que a resistência aos antibióticos é um dos principais problemas de saúde mundial. Para diversas enfermidades, como pneumonia e tuberculose, os antibióticos atualmente disponíveis demonstram eficácia cada vez menor, em função da resistência das bactérias.

E POR QUE ESSA RESISTÊNCIA DAS BACTÉRIAS?

De acordo com a OMS, o uso inadequado de antibióticos é considerado o principal motivo para a resistência antimicrobiana. Para se ter uma ideia, em países como Estados Unidos e Canadá, estima-se que de 30% a 50% das prescrições de antibióticos sejam inapropriadas ou mesmo desnecessárias.

São situações de falta de um correto diagnóstico de infecção bacteriana, quando uma infecção viral é incorretamente diagnosticada como bacteriana e recebe este tratamento inadequado.

Isso pode significar que no futuro poderemos ter que lidar com infecções de difícil controle, que antes eram consideradas triviais, alerta a OMS.

E NA ESPECIALIDADE DE OTORRINOLARINGOLOGIA, ISSO PODE OCORRER?

Sim, dentro da especialidade de Otorrinolaringologia, as infecções de vias aéreas superiores, otites médias, rinossinusites (sinusites) e faringotonsilites (amigdalites) representam um grande número de enfermidades que são tratadas com antibióticos. A maioria das infecções adquiridas na comunidade é inicialmente causada por vírus, são autolimitadas em sua evolução clínica e dispensam o uso de antibióticos. Um pequeno percentual destes casos evoluirá para uma infecção bacteriana secundária, e nesses casos, os antibióticos poderão ser úteis.

Associação Brasileira de Otorrinolaringologia (ABORL), preocupada com o uso indiscriminado destas medicações, lançou um documento alertando a classe médica sobre este problema e orientando a prescrição correta dos antibióticos, via protocolos.

O USO INADEQUADO DE ANTIBIÓTICOS PODE TRAZER OUTROS PROBLEMAS?

Outros possíveis problemas são:

  • Alterações da flora intestinal (manifestando-se com diarreia, gases ou constipação),
  • Alterações da flora vaginal (podendo ocasionar candidíase),
  • Reações alérgicas ao medicamento (reações na pele ou choque anafilático),
  • Desconforto gástrico e vômitos.
  • Toxicidade hepática, renal, neurológica.
  • Teratogenicidade

O QUE TEM SIDO FEITO PARA QUE O USO INDISCRIMINADO SEJA EVITADO?

Vários países no mundo todo têm aplicado diretrizes, campanhas e políticas de saúde pública visando diminuir a prescrição indevida dos antibióticos.

No Brasil, o Governo Federal, através da Resolução RDC número 20, em 2011, junto à ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), determinou que os antibióticos passariam a ser vendidos apenas ante prescrição médica, com a retenção da receita na farmácia e registro de consumo dos antibióticos junto ao Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados. Desde 2013, todas as farmácias devem submeter à ANVISA uma comunicação eletrônica relacionada às receitas de antibióticos. No primeiro ano que se seguiu à implementação desta política, ocorreu uma queda de 20% nas prescrições de antibióticos, mas logo em seguida, o número voltou a crescer.

A Associação Brasileira de Otorrinolaringologia conclui seu documento chamando a atenção de todos os setores da sociedade – médicos, pacientes, indústria farmacêutica, governo e sistemas de saúde –, para que modifiquem suas atitudes e comportamentos, com o objetivo comum de que seja praticada uma medicina mais precisa e mais consciente.

Texto baseado no documento da ABORL: I Campanha sobre uso de antibióticos em infecções de vias aéreas superiores. 

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